Elena Undone: o desejo visceral

O que você pode esperar desta obra sáfica de 2010? Mesmo que já tenha passado uma década e meia, esse filme aborda de forma sincera e ainda atual os dilemas e as delícias de um romance entre duas mulheres em um cenário de conservadorismo, religião e homofobia. Mesmo com uma crescente (envolta de muita luta) de maior visibilidade LGBTQIAP+, ainda é possível se identificar com a complexidade e dificuldade de uma mulher adulta descobrir o desejo por mulheres dentro de um casamento e em uma religião conservadora.
Elena Undone é a protagonista, filha de uma tradicional família indiana, mulher de um pastor, mãe e vive uma vida um tanto quando entediante e infeliz, acaba se tornando amiga da Peyton, uma escritora assumidamente lésbica. Pouco a pouco a relação delas se transforma inevitavelmente em um romance repleto de carinho e desejo visceral entre elas, mas Elena precisa enfrentar diversos desafios para tornar essa realidade possível.
A narrativa é contada em formato de “filme com mini-documentário”, dando um ar diferente dos romances tradicionais, trazendo relatos de romances paralelos entre outros casais e reflexões sobre o amor. Apesar de ser uma abordagem um tanto quanto fantástica sobre a magia do amor, encaixa muito bem com a história entre elas e com certeza tocará os corações mais românticos.
O ponto mais forte em toda a obra sem dúvidas é a atuação das protagonistas, é possível sentir a tensão sexual desde as primeiras cenas entre elas em que estão apenas conversando. O olhar, a respiração, a intenção, algo que envolve o telespectador, cresce cada vez mais até que elas realmente ficam juntas. O beijo e o sexo são muito bem representados, ao contrário de outros filmes sáficos mais problemáticos que performam apenas para homens, esse transmite delicadeza, tesão, conexão, química e prazer entre duas mulheres.
O desenvolvimento da Elena do começo ao final do filme também é positivo, é possível notar o quanto ela estava infeliz em uma relação, o quanto reluta para viver este novo amor e ficar com uma mulher pela primeira vez, tanto pelas próprias questões, mas principalmente por todo preconceito à sua volta, de depois por se permitir vivenciar e enfrentar com mais coragem os desafios que surgem para que possa vivê-lo.
Shorty Award – beijo mais longo entre mulheres no cinema
Em 2011, o filme ganhou o prêmio Shorty Award com o beijo mais longo da história do cinema, elas se beijam durante 3 min e 24 segundos, sem cortes e interrupções.
Não é um filme perfeito, tem vários pontos que poderiam ter sido melhores, como a trilha sonora que quebra o clima em alguns momentos ou até mesmo a abordagem de amor arrebatador. Mas é uma obra que transmite uma história de uma descoberta da sexualidade após um casamento infeliz, que acontece repetidas vezes na nossa sociedade, e com uma química e atuação belíssima entre as atrizes.

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